Saudações Mortais...
Não comecei o ano de 2013 bem. Na verdade, nada
bem.
Sempre achei que a Morte fosse algo benéfico para
mim, mas nunca percebi que não havia nada de benéfico Nela se eu não estivesse
sozinha. Ir embora, deixar este mundo e deixar de existir não é ruim se somos
solitários, mas quando existem pessoas que amamos e que nos amam, aí sim a
coisa complica.
Havia tempos que eu acreditava que se morresse e
deixasse quem eu amasse livre da minha presença seria algo positivo, mas
verifico que não é. Os que vão embora deixam um grande vazio em nossos
corações. Não sei o que acontece quando morremos, se ocorre semelhante a
dormir, quando caímos no sono e “apagamos”. Não sei se somos levados por outros
espíritos para outro plano astral, embora os espíritas afirmem que sim ou se
acontece como nas máquinas, que quebram e simplesmente param de funcionar.
A verdade é que iniciei 2013 com esse sentimento
terrível de perda. De medo do momento em que eu tiver de ir embora ou quando
alguém que eu amo ir embora. Meu primeiro sentimento nesse ano foi com a perda
do nosso porquinho de estimação: Darwin. Independente se é só um bichinho, o
mesmo tem vida, sentimentos, diferindo apenas na espécie. Lembro como se fosse
ontem e toda a vez fico triste, com vontade de chorar. O porquinho há 3 dias
não estava bem, parou de comer e de beber água. Parecia que ele queria comer,
mas não conseguia. Quando pensei em levar ao veterinário, foi tarde demais.
Como eu estava de férias, acordei no dia 7 de janeiro perto das 11h e fui direto
para a gaiola do Darwin, para ver como ele estava. Como na noite anterior, ele
estava deitado num canto da gaiola, sem se mexer e eu, tentando melhorar a situação do
bichinho, peguei ele no colo para ver se ele melhorava, mas ilusão a minha, ao
pegá-lo, percebi que ele nem tentou fugir como sempre fazia quando estava bem.
Simplesmente deixou que eu o pegasse. Fiquei com ele no colo por alguns
momentos e comecei a chorar chamando o porquinho de idiota, porque ele tinha de
reagir, tinha de melhorar, mas não foi isso que aconteceu. Ele tremeu forte
duas vezes e eu o coloquei no chão, achando que facilitaria e que ele começaria
a caminhar, mas não foi isso que aconteceu. Permaneci segurando o Darwin, para
que não caísse, então ele tremeu de novo pela terceira vez e partiu. Quando
percebi isso, comecei a chorar de novo. Meu filho veio saber o que acontecia e
começou a chorar também quando eu disse que o porquinho tinha morrido. O pior
de tudo isso foi a percepção que eu tive de que o Darwin tinha esperado apenas
pelo momento de eu pegá-lo no dia seguinte, como se soubesse que iris partir no
dia 7 e estivesse só esperando por mim para se despedir.
O momento da morte é terrível. É como se o corpo
de quem está indo embora tremesse todo quando a alma vai embora e depois fica
aquele corpo inerte, com olhos sem brilho mirando o vazio. Só presenciei isso
uma vez quando meu periquito morreu de velho. Aconteceu a mesma coisa com o
Edgar, quando ele partiu. Se isso me abalou tanto com um bichinho de estimação,
penso em como será quando acontecer com uma pessoa que eu gosto muito, com
algum parente meu... confesso que não sei se conseguirei suportar tal coisa.
Nós nos acostumamos tanto com a presença seja do bichinho, seja da pessoa ao
nosso lado, com suas manias, suas características e sua forma de expressar seus
sentimentos. E quando tudo isso acaba? E quando olhamos para um canto da casa
onde o bichinho ficava e só vemos um vazio? E quando olhamos para a cama e
vemos o vazio que o marido ou esposa deixaram porque partiram e nunca mais
voltarão?
Os espíritas dizem que a morte não é uma coisa
ruim, que é natural e que, em determinado tempo, nós nos reencontraremos com os
que amamos em outro plano. Também dizem que não devemos ficar tristes pela
ausência deles, pois é tudo passageiro. Pensando por essa lógica, acho o
pensamento reconfortante, mas quem é que me garante que isso vai acontecer de
fato? Quem é que garante que eu vou reencontrar em algum momento, todos aqueles
que foram embora antes de mim? E se isso for verdade, como viver dia após dia
com a ausência da pessoa ou do bichinho? Se a pessoa não tem o dom, como saber
que o ente amado está por perto, esperando por ele ou ela (como aconteceu no
Ghost)? Podemos estar acompanhados dos que amamos, mas se não pudermos sentí-los
ou vê-los, como aplacar a saudade e a ausência de nossos corações?
Não sei resposta alguma para essas perguntas, mas
sei que tudo é muito complicado e doloroso. Tento não pensar nisso, mas não sei
o que farei se eu for depois dos que amo. Infelizmente, sou muito emotiva com
esse tipo de coisa e acho que não suportarei continuar longe das pessoas que
ficaram comigo por tantos anos.
Existe um filme com o Brad Pitty que conta a
história de um homem que nasce velho e morre jovem. Chico Anysio em uma entrevista
também disse que deveríamos nascer velhos e morrer jovens. Concordo plenamente,
pois é quase impossível lembrar de como foi o nosso nascimento, se doeu ou não,
se foi traumático ou não, mas lembramos ou estamos conscientes do momento de
nossa morte, pois sabemos que estamos deixando esse mundo. Pra quê envelhecer e
saber, aos poucos, que estamos caminhando para a morte? Pra quê morrer sem ter
a mesma agilidade de quando se é jovem, cheio de doenças da idade, de
restrições. Sei que existem idosos que dão muito show em pessoas mais novas,
mas vamos ser realistas, uma hora, por mais que a pessoa tenha uma vida
saudável, o corpo não vai aguentar e vai parar (salvo se for um vampiro). Então
me respondam, porque viver? Vejam os exemplos das pessoas que morreram na
tragédia de Santa Maria. Imaginem o pavor dos que não conseguiram fugir.
Imaginem centenas de jovens desesperados, tentando achar a saída, pisando uns
nos outros enquanto a fumaça os asfixiava. O que é que deve ter passado na
mente deles naquele momento de terror? E aquela jovem que enviou um pedido de
socorro pelo Facebook? E os familiares dessas pessoas? O desespero que não
devem ter passado ao saber que seus filhos que estavam um dia antes alegres e
contentes agora não passavam de um corpo inanimado a espera de reconhecimento?
Li sobre a história de um cara que era casado e que conseguiu sair da boate e
salvar a esposa, mas que retornou para salvar mais pessoas e infelizmente
acabou morrendo. Imaginem como a esposa dele não ficou. O ato foi heroico, mas
a esposa merecia ficar viúva? O que será das noites dela ao olhar para a cama e
pensar que o marido poderia estar com ela, mas não estava porque optou por
salvar outras pessoas e não conseguiu se salvar? Houve a história de outro
jovem que salvou 14 pessoas, mas também não conseguiu se salvar... a irmã dele
disse que se ele tivesse sobrevivido, ficaria muito irritado por não ter podido
salvar as pessoas. Houve
outro caso que me chamou muito atenção. Estava vendo as fotos de algumas
vítimas na internet, quando me deparei com a foto de Allana Willers. Havia uma
informação de que ela tinha 18 anos, cursava jornalismo e era autora do Blog
Cool Closet: http://cool-closet.blogspot.com.br/. Por curiosidade,
resolvi visitar o blog. Verifiquei que a última postagem era de 31 de dezembro
e que ela escrevera: “Aguardem, pois graaandes novidades estão por vir
para as leitoras lindas aqui do blog!” Olhem a ironia da coisa: a
jovem tinha planos para 2013 e nem suspeitava que no dia 27 de janeiro,
deixaria este mundo com tantos planos pela frente. Pelo blog é possível
perceber que ela adorava moda, mas optou pela faculdade de jornalismo
justamente para poder escrever e estar presente nas atualidades sobre moda. Ela
também tinha sido convidada por uma rádio da região para participar com um
amigo de um programa sobre moda, mas infelizmente nada disso aconteceu porque
ela morreu. Quantos planos, projetos e sonhos ela não tinha? Quantas pessoas
que ela amava e que amavam ela não foram separados de forma brusca? E o pior,
eu que não conheci a moça, fiquei triste ao ler a postagem de 31 de dezembro e
saber que nunca mais haverá postagem alguma no blog, porque a autora deixou este
mundo.
Os espíritas dizem que viemos para cá para nos
aperfeiçoar, mas pergunto, aperfeiçoar o quê, para quê? Para sofrermos com as
coisas que acontecem? A vida aqui não é nada bonita e tende a piorar. Já temos
tantas provas, tantas coisas ruins e ainda temos de ficar longe daqueles que
amamos.
Talvez por isso existam os vampiros, para tentar
iludir que a vida é eterna, que nós não precisaremos ficar longe de quem amamos
e que há sempre um lado positivo neste mundo.
Por isso me revolto tanto quando percebo que as
pessoas passam a maior parte de suas vidas longe dos amigos, da família para
ficarem presos trabalhando como escravos. Precisamos do dinheiro para
realizarmos nossos sonhos, mas não há fundamento algum em poder realizar um
sonho ou projeto se quem deveria estar ao nosso lado, partiu e nos deixou
sozinhos. Não concordam?